segunda-feira, 13 de junho de 2016

8ª JorN.A.D.A Literal: Conversações sobre Derrida e Esta Estranha Instituição Chamada Literatura



Delírio. Delírio? Delírio!
Karl Jasper foi o primeiro a definir os três critérios principais para que uma crença seja considerada delirante:
1.      A certeza, mantida em absoluta convicção.
2.      Incorrigibilidade, não passível de mudança por força de contra argumentação ou prova em contrário.
3.      Impossibilidade ou falsidade de conteúdo, plausível, bizarro ou patentemente inverídico.
A literatura delira?

Os dois primeiros tópicos de Jasper fundamentam a literatura no lugar pragmático e objetivo da realidade não delirante, não há certeza absoluta, toda contra argumentação possui seu lugar válido dentro do estudo do literário. Com isto, nos resta divagar sobre o terceiro tópico: o conteúdo literário é falso? Bizarro? São proclamadas inverdades neste gênero? Sendo assim, a literatura é um delírio? A literatura delira?
No dicionário de Bluteau, no decorrer das definições, a palavra Delírio está depois de Delir¹ e antes de Delito. A própria literatura é permeada de delir’es: como o Segredo de Jurema de IracemaBertram, Archibald, Solfieri, Johann, Arnold, conversando sobre as loucuras noturnas embaladas pelo álcool em Uma Noite do Século, no livro, Uma noite na Taverna; e até o pianocoquetel – um piano que faz coquetéis -, em A espuma dos dias. Também permeada por delitos: as mortes decifradas por Sherlock Holmes; Raskólnikov que mata a velha, dona do apartamento que mora, em Crime e Castigo; a condenação de Jean Valjean pelo roubo de pães em Os Miseráveis, e por fim, também do livro Uma Noite na Taverna, Bertram, que pelo amor de uma mulher acaba se rendendo ao álcool e mata seus três melhores amigos- sendo a relação entre delir e delito.
A literatura pode ser evocada como a suspensão das leis – legais e físicas-, de convenções e normas sociais. Permite acessar estados de consciência involuntários. As próprias inspirações literárias escapam às racionalizações dos leitores, dos críticos, dos historiadores.
Derrida argumenta em Uma Estranha Instituição Chamada Literatura que “O espaço da literatura não é somente o de uma ficção instituída, mas também o de uma instituição fictícia, a qual, em princípio permite dizer tudo. Dizer tudo é sem dúvida, reunir, por meio a tradução, todas as figuras umas nas outras, totalizar formalizando; mas dizer tudo é transpor [franchir] os interditos. É liberar-se [s’affranchir] – em todos os campos nos quais a lei pode se impor como lei. A lei da literatura tende, em princípio, a desafiar ou suspender a lei.” (DERRIDA, 2014, p.49)
Reduzir a essência da vida à consciência do analista, do historiador, seria talvez o grande delírio coletivo chamado história? Retomando Jasper, este preceito da busca pela suma certeza produzida na historiografia, acaba por fazer desta uma esfera delirante?
Voltar à narrativa literária seria então um sopro de vida e realidade para nós?
Deliremos!
¹Delir: alguma coisa em um licor


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