Delírio. Delírio?
Delírio!
Karl Jasper foi o
primeiro a definir os três critérios principais para que uma crença seja
considerada delirante:
1.
A certeza, mantida em absoluta
convicção.
2.
Incorrigibilidade, não passível de
mudança por força de contra argumentação ou prova em contrário.
3.
Impossibilidade ou falsidade de
conteúdo, plausível, bizarro ou patentemente inverídico.
A literatura delira?
Os dois primeiros tópicos de Jasper
fundamentam a literatura no lugar pragmático e objetivo da realidade não
delirante, não há certeza absoluta, toda contra argumentação possui seu lugar
válido dentro do estudo do literário. Com isto, nos resta divagar sobre o
terceiro tópico: o conteúdo literário é falso? Bizarro? São proclamadas
inverdades neste gênero? Sendo assim, a literatura é um delírio? A literatura
delira?
No dicionário de Bluteau, no decorrer
das definições, a palavra Delírio está depois de Delir¹ e antes de Delito. A
própria literatura é permeada de delir’es: como o Segredo de Jurema de Iracema; Bertram, Archibald,
Solfieri, Johann, Arnold, conversando sobre as loucuras noturnas embaladas pelo
álcool em Uma Noite do Século, no livro, Uma noite na
Taverna; e até o pianocoquetel – um piano que faz coquetéis -, em A
espuma dos dias. Também permeada por delitos: as mortes decifradas por Sherlock
Holmes; Raskólnikov que mata a velha, dona do apartamento que mora, em Crime
e Castigo; a condenação de Jean Valjean pelo roubo de pães em Os
Miseráveis, e por fim, também do livro Uma Noite na Taverna,
Bertram, que pelo amor de uma mulher acaba se rendendo ao álcool e mata seus
três melhores amigos- sendo a relação entre delir e delito.
A literatura pode ser
evocada como a suspensão das leis – legais e físicas-, de convenções e normas
sociais. Permite acessar estados de consciência involuntários. As próprias
inspirações literárias escapam às racionalizações dos leitores, dos críticos, dos
historiadores.
Derrida argumenta em Uma
Estranha Instituição Chamada Literatura que “O espaço da literatura
não é somente o de uma ficção instituída, mas também o de uma instituição
fictícia, a qual, em princípio permite dizer tudo. Dizer tudo é sem dúvida,
reunir, por meio a tradução, todas as figuras umas nas outras, totalizar
formalizando; mas dizer tudo é transpor [franchir] os interditos. É liberar-se
[s’affranchir] – em todos os campos nos quais a lei pode se impor como lei. A
lei da literatura tende, em princípio, a desafiar ou suspender a lei.”
(DERRIDA, 2014, p.49)
Reduzir a essência da
vida à consciência do analista, do historiador, seria talvez o grande delírio
coletivo chamado história? Retomando Jasper, este preceito da busca pela suma
certeza produzida na historiografia, acaba por fazer desta uma esfera
delirante?
Voltar à narrativa
literária seria então um sopro de vida e realidade para nós?
Deliremos!
¹Delir: alguma coisa em um licor.
Inscrições: CLIQUE AQUI