quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Seminário do NEPHISPO + N.A.D.A Literal


INSCREVA-SEhttps://goo.gl/forms/i0qWGCejpopjM49g2

O N.A.D.A Literal convida para a mesa redonda que marca o 2º Semestre de atividades do grupo no ano 2017. Este evento reúne a pesquisadora do NEPHISPO/UFU, Jacy Seixas e a pesquisadora do CIEC/UNICAMP, Josianne Cerasoli, retomando questões e debates planejados para a ANPUH 2017 que, por obra do acaso, foram adiados. 


Nessa proposta discutiremos a obra da escritora ucraniana Svetlana Aleksiévitch, "Vozes de Tchernóbil", com a mediação da pesquisadora Mônica Campo. Mas, caso você tenha lido qualquer outra obra da escritora será muito bem-vindx! Além disso, deixamos como indicação de leitura a "entrevista da autora consigo mesma" que pode ser acessada por esse link.


O evento acontecerá no dia 27 de setembro
Onde: Auditório Bloco 5O B - Universidade Federal de Uberlândia
Hora: 19 h

Para não esquecer, você pode confirmar presença no evento do facebook

De maneira especial, e quebrando a tradição de como apresentamos nossos eventos, segue abaixo um resumo de cada convidada sobre sua proposta. Esperamos que isto os instiguem e que não percam!



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Sobre (in)conveniência das configurações identitárias a partir de Vozes da Grande Utopia                                                                          Josianne F. Cerasoli - CIEC/Unicamp
Um franco interesse pelo “acontecimento do sentimento” está exposto no prefácio várias vezes reescrito do primeiro livro da bielorrussa Svetlana Alexandrovna Aleksiévitch (1948-), e está também no centro das reflexões deste estudo, que acolhe as indicações da escritora a respeito do papel imperativo da narrativa diante das situações traumáticas incessantes desde os anos 1920. O papel da narrativa desdobra-se na narrativa histórica e historiográfica ao buscar pensar o lugar de dimensões sensíveis ligadas a configurações identitárias na atualidade (memórias políticas). O ponto de partida está no projeto literário Vozes da grande utopia – segundo a autora, destinado a reunir “a vida do seu tempo”. O programa narrativo deVozes da grande utopia – denominado na recepção à obra como “coro-épico”, “novela-oratório”, “romance-evidência”, “registro trágico-prosaico”, “prosa documentária”, “literatura factual” ou ainda “jornalismo literário” – instiga sua consideração como registro único para uma interpretação histórica de compromissos políticos e sociais relativos aos conflitos ideológicos do período. É a própria autora, ao receber o Nobel, quem afirma ter escrito cinco livros que parecem ser apenas um: “um livro sobre a história de uma utopia”. A partir de proposições de Rancière e Agamben sobre as “ficções” da arte e da política e sobre a “fábrica do sensível”, e das reflexões de Gagnebin sobre narrativa, propõe-se analisar o potencial de historicidade do projeto da autora tomando-se sobretudo o livroVozes de Tchernóbil como desafio à narrativa histórica do presente. 



Vozes de Tchernóbil – o tempo ´suspenso´ e a linguagem da memória                                                                                                  Jacy Alves de Seixas - UFU

26 de abril de 1986: eclosão de uma catástrofe histórica sem precedentes, que permanece desafiando as narrativas da memória, e do esquecimento, e as escritas da história: um incêndio destrói um dos reatores e parte da usina nuclear da Tchernóbil, na Bielorrússia, jogando na atmosfera, na terra e leitos dos rios uma quantidade absurda de partículas radioativas, matando e condenando à morte lenta e silenciosa centenas de milhares de pessoas, de outros seres vivos e toda uma região da então União Soviética.
1997: Svetlana Aleksiévitch, prêmio Nobel de literatura em 2015, publica Vozes de Tchernóbil – título em português do livro lançado no Brasil em 2016. Misto de literatura, testemunhos históricos e “colagem” impactante de narrativas sobre as várias dimensões humana, histórica e ecológica envolvidas que interpelam, sem cessar, a compreensão histórica. A autora apresenta seu livro em termos precisos: “Tchernóbil é antes de tudo uma catástrofe do tempo. Os radionuclídeos espalhados sobre a nossa terra viverão cinquenta, cem, 200 mil anos. Ou mais.

Do ponto de vista da vida humana, são eternos. Então, o que somos capazes de entender?” As memórias e testemunhos são percebidos como situados no limiar do “indizível”, quase impossíveis de serem articulados e narrados e, no entanto, prementes e urgentes. ´Não encontro palavras para expressar o que eu vi e vivi´; ´Nunca li nada semelhante em livro algum, nem vi algo assim em filme algum´. Essa sensação do “inenarrável” situado, de alguma forma, fora da linguagem [ou percebido como tal], a percepção da ausência de apoio na tradição, na cultura e no pensamento “do passado” para embasar a compreensão e possível conciliação com a realidade experimentada, e aquela a ser ainda construída e vivida, estiveram presentes em outros momentos da história contemporânea: na busca de entendimento das sociedades totalitárias, dos campos de extermínio e do isolamento totalitário. Primo Levi e Hannah Arendt, por exemplo, são autores incontornáveis que buscaram enfrentar esse desafio. Essa reflexão busca trazer elementos para se pensar, no cruzamento da linguagem da memória/esquecimento e das escritas da história, a questão da temporalidade que o tempo das catástrofes introduz. Escreve Svetlana Aleksiévitch: “Entre o momento em que aconteceu a catástrofe e o momento em que se começaram a falar dela, houve uma pausa. Um momento de mudez. E todos se lembram dele...”. Interpelar essa “pausa”, essa temporalidade ´vazia´ onde se elaboram as memórias e suas “vozes” constitui o tema central dessa conversação.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

JorN.A.D.A Literal 2017


O N.A.D.A Literal dá as boas vindas aos novos ingressantes do curso de história e os convida a participarem desta primeira JorN.A.D.A do ano de 2017. Nossa inspiração surgiu justamente destes calouros que decidiram por tornarem-se historiadores - mas o que seria "ser um historiador"?
Acostumem-se, esta pergunta perseguirá a todos vocês neste novo momento que começa, esperamos que seja uma jornada divertida, intuitiva e empolgante. A curiosidade os arrebataram?


sábado, 3 de setembro de 2016

Circul(ações) Literárias: Virginia Woolf rumo Ao Farol


"E isso - pensou Lily pondo tinta verde no pincel -, esse hábito de inventar cenas sobre os outros é o que chamamos 'conhecê-los', 'pensar' neles, 'gostar' deles! Não havia a menor verdade nisso; era uma total invenção; contudo, era desse modo que os conhecia. Continuou abrindo caminho em seu quadro, de volta ao passado"
Rumo ao Farol

Virginia Woolf, era membro do Bloomsbury, e considerada uma importante escritora modernista, introdutora do chamado fluxo de consciência na narrativa. Seus romances mais famosos incluem  Mrs. Dalloway (1925) e Orlando (1928),  e o ensaio Um teto todo seu (1929). Além de escrever uma série de romances, contos e ensaios, era biógrafa e editora. Após inúmeras crises de depressão, Virginia encheu os bolsos de pedras e se jogou nas águas  do Rio Ouse, deixando apenas uma carta para seu marido, Leonard, e algumas das maiores obras da literatura para seus leitores.



  Woolf já havia aparecido entre nossas convidadas (não literal.mente falando), em novembro de 2013. Na época discutíamos sobre o sentido da morte, falávamos sobre Mrs. Dalloway e o filme As horas, de Stephen Daldry. As vidas que observávamos então eram as das três mulheres que compõem o filme: Virginia Woolf, Laura Brown e Clarissa Vaugh, cada uma destas vidas em diferentes temporalidades, 1923, 1951 e 2001 respectivamente. E nestas vidas existiam angústia, tristeza e negação. Em tempos temerosos, Virginia Woolf volta à baila de discussão com o seu romance, de 1927, Rumo ao Farol. Agora lançamos nosso olhar sobre outra gama de personagens corroídos e fragmentados pelo tempo. O mesmo tema sob outro foco? 


Circulamos, e Woolf retorna nos rumos literários que tomamos, sem nenhum caminho previsto, agregando novas pegadas e estradas mesmo através do retorno. 


Circulemos!


P.S: O livro discutido está na pasta N.A.D.A Literal - na Ideal. 




segunda-feira, 13 de junho de 2016

8ª JorN.A.D.A Literal: Conversações sobre Derrida e Esta Estranha Instituição Chamada Literatura



Delírio. Delírio? Delírio!
Karl Jasper foi o primeiro a definir os três critérios principais para que uma crença seja considerada delirante:
1.      A certeza, mantida em absoluta convicção.
2.      Incorrigibilidade, não passível de mudança por força de contra argumentação ou prova em contrário.
3.      Impossibilidade ou falsidade de conteúdo, plausível, bizarro ou patentemente inverídico.
A literatura delira?

Os dois primeiros tópicos de Jasper fundamentam a literatura no lugar pragmático e objetivo da realidade não delirante, não há certeza absoluta, toda contra argumentação possui seu lugar válido dentro do estudo do literário. Com isto, nos resta divagar sobre o terceiro tópico: o conteúdo literário é falso? Bizarro? São proclamadas inverdades neste gênero? Sendo assim, a literatura é um delírio? A literatura delira?
No dicionário de Bluteau, no decorrer das definições, a palavra Delírio está depois de Delir¹ e antes de Delito. A própria literatura é permeada de delir’es: como o Segredo de Jurema de IracemaBertram, Archibald, Solfieri, Johann, Arnold, conversando sobre as loucuras noturnas embaladas pelo álcool em Uma Noite do Século, no livro, Uma noite na Taverna; e até o pianocoquetel – um piano que faz coquetéis -, em A espuma dos dias. Também permeada por delitos: as mortes decifradas por Sherlock Holmes; Raskólnikov que mata a velha, dona do apartamento que mora, em Crime e Castigo; a condenação de Jean Valjean pelo roubo de pães em Os Miseráveis, e por fim, também do livro Uma Noite na Taverna, Bertram, que pelo amor de uma mulher acaba se rendendo ao álcool e mata seus três melhores amigos- sendo a relação entre delir e delito.
A literatura pode ser evocada como a suspensão das leis – legais e físicas-, de convenções e normas sociais. Permite acessar estados de consciência involuntários. As próprias inspirações literárias escapam às racionalizações dos leitores, dos críticos, dos historiadores.
Derrida argumenta em Uma Estranha Instituição Chamada Literatura que “O espaço da literatura não é somente o de uma ficção instituída, mas também o de uma instituição fictícia, a qual, em princípio permite dizer tudo. Dizer tudo é sem dúvida, reunir, por meio a tradução, todas as figuras umas nas outras, totalizar formalizando; mas dizer tudo é transpor [franchir] os interditos. É liberar-se [s’affranchir] – em todos os campos nos quais a lei pode se impor como lei. A lei da literatura tende, em princípio, a desafiar ou suspender a lei.” (DERRIDA, 2014, p.49)
Reduzir a essência da vida à consciência do analista, do historiador, seria talvez o grande delírio coletivo chamado história? Retomando Jasper, este preceito da busca pela suma certeza produzida na historiografia, acaba por fazer desta uma esfera delirante?
Voltar à narrativa literária seria então um sopro de vida e realidade para nós?
Deliremos!
¹Delir: alguma coisa em um licor


Inscrições: CLIQUE AQUI

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Contando as Horas: os contrastes de Woolf






                                               To look life in the face, always, to look life in the face, and to know it for what it is...at last, to love it for what it is, and then, to put it away...
-Virgínia Woolf
Em nosso primeiro encontro deste 2º Semestre de N.A.D.A Literal com a temática “Novas histórias, do fio ao fim: tessituras da morte nastramas literárias” contamos com a presença mais do que especial da Prof.ª Dr.ª Priscila Piazentini que nos agraciou com uma intrigante discussão sobre a obra Mrs. Dalloway, de Virgínia Woolf, e também sobre o filme As Horas, seminário este intitulado "Eu escolhi a vida": As Horas, Mrs. Dalloway e o jogo entre a vida e a morte .
Nossa convidada transitou entre cenas do filme e análises do livro, sempre apontando questões pertinentes ao tema geral de nosso semestre. A partir de suas colocações e das suas escolhas de cenas à apresentar, fomos todos levados à uma reflexão sobre o sentido da morte, mais especificamente, suicídio, e vida. 
Iniciamos com a cena do filme na qual Virgínia Woolf se mata, submergindo calmamente nas águas do rio, enquanto ouvimos a carta que deixou ao seu marido. Assim, ao contrário da ordem do mundo, iniciamos com a morte.
As vidas que observamos foram das três mulheres que compõem o filme: Virgínia Woolf, Laura Brown e Clarissa Vaughn, cada uma destas vivas em diferentes temporalidades, 1923, 1951 e 2001 respectivamente. E nestas vidas existiam angústia, tristeza, negação. Woolf, já afastada de Londres por ordens médicas sente-se morta, definindo Londres como a cidade que lhe aviva. Laura vive uma vida pacata, tradicional, com seu filho, seu marido e esperando outra criança, mas angustia-se por não desejar esta vida, que se  torna insuportável. Clarissa não vive sua vida, mas sim a de seu amigo Richard, poeta que passa pelo sofrimento da AIDS. Estas vidas estão entrelaçadas por Mrs. Dalloway, a qual Woolf escreve, Laura lê e Clarissa internaliza.
                       Duas imagens, portanto da disciplina. Num extremo, a disciplina - bloco, a instituição fechado, estabelecido à margem, e toda voltada para funções negativas: fazer parar o mal, romper as comunicações, suspender o tempo. No outro extremo, com o panoptismo, temos a disciplina - mecanismos: um dispositivo funcional que deve melhorar o exercício do poder tornando-o mais rápido, mais leve, mais eficaz, um desenho das coersões subtis para uma sociedade que está por vir. O movimento que vai de um projecto ao outro, de um esquema da disciplina de excepção ao de uma vigilância generalizado, repousa sobre uma transformações histórica: a extensão progressiva dos dispositivos de disciplina ao longo dos séculos XVII e XVIII, sua multiplicação através de todo o corpo social, a formação do que se poderia chamar grosso modo a sociedade disciplinar.
- FOUCAULT, 1997, p. 133 
Sobre tais vidas a Prof.ª Dr.ª Priscila traz Foucault, nos fala sobre a coerção e controle do corpo, a sociedade disciplinar, e Deleuze, que trata sobre a sociedade de controle e a vida como resistência ao poder. Sobre a mulher, fomos apresentados às citações de Margareth Rago e suas análises sobre a mulher, a família e o controle que esta gera na primeira.
Woolf controlada por seus médicos e seu marido, Laura Brown controlada pelo ideal familiar vivido nos anos 50 e Clarissa que controla-se vivendo em favor de Richard.
                                         
                                                                          O que significa se arrepender quando não há escolha? 
                                                                                       - Laura Brown - As Horas
A morte, neste seminário não a confrontamos, e sim a compreendemos. O suicídio perpassa as vidas do filme As Horas: Woolf deseja matar uma personagem do livro que escreve, um deles deve morrer, Laura Brown foge de sua vida e tenta cometer suicídio, mas desiste, Clarice presencia o suicídio do que era sua vida: Richard. A morte, como Woolf diz a seu marido em uma das cenas escolhidas por nossa convidada, que a morte é o contraste, que faz os que ainda vivem valorizar este momento, por isso esta deve acontecer. Apenas assim, como ocorreu com Clarissa, pode-se abandonar o fardo e enxergar-se vivo.
Finalizando com a cena do suicídio de Richard, chegamos ao fim desta surpreendente discussão.

Agradecemos à Prof.ª Dr.ª Priscila P. Vieira por suas brilhantes falas e por este momento tão agradável e impactante. Finalizamos pensando se discutir a morte nos fará enxergar a vida com novos olhos.

Por fim:

 
"Teve Bão!"